Em entrevista ao Coruja Podcast — programa disponível no YouTube — o pesquisador criminal e conferencista Ubirajara Fávilla e o suboficial da reserva da Marinha do Brasil, Wagner Coelho, apresentaram dados e relatos extremamente realistas que escancaram a profundidade da crise fluminense e o perigoso alcance do crime organizado no estado.
A advertência dos especialistas revela que o Rio de Janeiro atravessa um momento crítico, marcado pela expansão simultânea do tráfico, da milícia e de organizações estrangeiras que já disputam território no estado, criando zonas de exclusão e áreas onde a população comum não pode entrar ou sair sem a permissão dos chefões do crime organizado.
A gravação de vídeo exibida abaixo circulou nesse final de semana em grupos de WhatsApp no Rio de Janeiro e mostra festa em comunidade carioca onde armas automáticas são utilizadas por traficantes para comemorar o evento.
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Drones armados e tecnologia militar nas mãos do crime organizado
Ubirajara Fávilla: “Infelizmente, os traficantes do estado já estão usando granadas e armas acopladas a drones.”
Fávilla – que é líder de um grande e seleto grupo de especialistas que se empenha em levar conhecimento especializado e multidisciplinar para profissionais de segurança pública, o GRI (Grupo de Resposta Imediata), recorda que, em 2016, já alertava para o risco de drones adaptados com explosivos. A previsão infelizmente se concretizou antes que as forças de segurança encontrassem resposta tecnológica adequada. Um ex‑militar da Marinha, segundo ele, chegou a treinar criminosos em Niterói, revelando a capacidade de cooptação de know‑how dentro da própria estrutura estatal.
1 740 favelas sob disputa: crime se expande muito além das drogas
Ubirajara Fávilla:: “1 740 favelas! Quanto maior a expansão territorial, maior o lucro — estão invadindo a infraestrutura.”
A fala do especialista revela que tráfico e milícia migraram para um mercado ainda mais rentável do que somente a exploração das drogas, agora exploram os serviços prestados para a sociedade em grandes áreas do estado: a pilhagem de cabos de telecomunicações, venda de energia, venda de gás e até o acesso a internet. Em apenas uma semana, um caminhão foi flagrado com 200 metros de cabos furtados. Companhias telefônicas atribuem 5 % de suas perdas anuais a esse crime, que causa interrupções de celular e internet para a população.
O Crime organizado internacional já opera no Rio
Ubirajara Fávilla: “O cartel mexicano já está no Brasil, só não totalmente operacional… ”
Cartéis estrangeiros e a reaproximação entre PCC e Comando Vermelho ampliam poder de fogo e logística das facções locais. Favilla prevê retaliações violentas: já há diversos relatos de sequestros de ônibus usados como barricada.
Estado ausente e inteligência falha
Favilla: “A inteligência vem falhando… situações que a gente pode prever”
Wagner Coelho: “… eu sou até às vezes meio meio cabeça quente em relação a isso … será que não se atentaram ou não querem se atentar?”
Sucessivos governos não implementam políticas duradouras. Fávilla cita a Conferência Nacional de Segurança Pública de 2009, cujo legado foi ignorado. Wagner Coelho ao questionar se não “querem se atentar” levanta dúvidas sobre a verdadeira prioridade dos governos, e as decisões políticas que priorizam “urgências” eleitorais enquanto escolas, hospitais e policiamento permanecem sem recursos.
Corrupção sistêmica, insegurança de um lado e impunidade e privilégios de outro
Wagner Coelho: “são carros, carrões blindados, com giroflex e atravessando a faixa do BRT, atropelando pessoas — e todos oficiais de parlamentares… Que moral tem um político falar de segurança tendo seguranças e carros blindados?”.
Os convidados denunciam a desconexão entre autoridades e a realidade das ruas: enquanto policiais patrulham sem equipamento adequado e cidadãos se locomovem sujeitos a assaltos e balas perdidas, parlamentares cariocas circulam em veículos blindados, alguns com sirenes, financiados pelo contribuinte. Favilla deixa a série de denúncias ainda mais aséria ao apontar que mais de R$ 100 bilhões em emendas parlamentares foram desviados sem transparência — recursos que poderiam financiar policiamento de fronteira, tecnologia antidrones e perícia criminal.
Falta de reação institucional
Apesar dos convites formais, nem o governador Cláudio Castro nem o prefeito Eduardo Paes confirmaram presença na 5.ª Conferência Nacional sobre Crime Organizado, evento organizado por ele par adiscutir a segurança pública no estado. Apenas o Ministério Público e a Secretaria da Polícia Militar responderam.
O retrato de urgência pintado pelos entrevistados
- Facções nacionais e internacionais dividem 1 740 comunidades.
- Drones armados sobrevoam áreas urbanas sem contramedidas.
- Furto de infraestrutura rende mais que o narcotráfico.
- A inteligência policial atua de forma reativa.
- Corrupção e privilégios políticos esvaziam recursos que salvariam vidas.
Sem coordenação entre poderes e sem investimento em tecnologia, gestão de fronteiras e investigação financeira, o estado corre o risco de ver o crime organizado assumir funções “paralelas” — desde o fornecimento de internet até a regulação de transporte — aprofundando a sensação de que a lei não alcança certas regiões.
O alerta final de Ubirajara Fávilla ecoa como um grito de socorro: “ que eu saiba a sensação vai e passa, nós queremos ter segurança”
Com dados de Coruja Podcast
Robson Augusto é autor na Revista Sociedade Militar